sábado, 22 de setembro de 2018

O FANTASMA DO REPENTE

















Caminhando sozinho numa estrada
Era noite, eu olhava o infinito
Num lugar bem distante e esquisito
Pra descanso ali eu fiz parada
Duma mala sem alça empoeirada
Tirei uma coberta verde-escura
Já deitado no chão, a essa altura
Cochilando e olhando para frente
Avistei o fantasma do repente
Mastigando um pedaço de cultura.

Noutra noite chuvosa cor de bredo
Abaixado por entre os matagais
Muito próximo a um curral de animais
Via o vento torcendo o arvoredo
Devagar, abatido pelo medo
Num casebre faltando a cobertura
Entrei nele por uma rachadura
E ao chegar bem na ponta de um batente
Avistei o fantasma do repente
Mastigando um pedaço de cultura.

Abraçado a um tronco de oiticica
Vendo os galhos da moita de jurema
Comecei escrever mais um poema
Escutando a toada da peitica
Muita água descia numa bica
Mas o brilho da lua com brancura
Espalhava um reflexo de doçura
E por entre essa luz incandescente
Avistei o fantasma do repente
Mastigando um pedaço de cultura.

Autor: Zé Bezerra

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