Sentindo a brisa suave
Que mal balança um arbusto
Junto a um pé de agave
Um preá salta com susto
O sapo à beira do poço
Não faz nenhum alvoroço
E a garça com sutileza
Por entre as sarças vagueia
Quando se tece uma teia
Com fios da natureza.
Se o trovão estremece
No outro lado da serra
Logo depois que anoitece
Cai chuva banhando a terra
O gado todo malhado
Em um curral encharcado
E ali cada rês presa
Quer dar uma escapulida
Enquanto a teia é tecida
Com fios da natureza.
Do cantar da passarada
Em um bonito coral
Ao romper da alvorada
No crepúsculo matinal
Da voz do uirapuru
Do apito do nambu
Do arrulho da burguesa
Logo que o dia amanhece
Uma teia a gente tece
Com fios da natureza.
E na verdejante mata
Árvores com suas ramagens
Com raios da cor de prata
A lua exibe as imagens
Num brilho extraordinário
É decorado um cenário
De deslumbrante beleza
E com essa tecitura
A teia fica segura
Com fios da natureza.
Teia que tem dimensões
De planícies e penhascos
De chapadas e grotões
Caatingas e carrascos
De desertos e geleiras
Lagoas e cachoeiras
Maré alta e correnteza
Falésias e manguezais
Uma dessas só se faz
Com fios da natureza.
Não é como a da aranha
Artisticamente tecida
Que tem perfeição tamanha
Essa nem é parecida
Porque é feita por gente
Então é bem diferente
E mais feia com certeza
Mas mesmo sendo imperfeita
A teia também foi feita
Com fios da natureza.
Autor: Zé Bezerra
Nenhum comentário:
Postar um comentário