terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

MATUTO NO AVIÃO

Tem nordestino que nunca
Quer sair do seu lugar
Prefere estar em seu canto
Não acha bom passear
Por ser tímido e reservado
É difícil viajar.

Zé Capiau é um desses
Matutos lá do sertão
Que nunca saiu do sítio
Nem andou na região
Mas um dia teve a sorte
De viajar de avião.

Ele foi surpreendido
Imaginem o porquê
Ao jogar na “Telessena”
Soube através da Tevê
Que foi sorteado e tinha
Que ir ao S.B.T.

Ficou tremendo e nervoso
Quando passou a saber
Que precisava ir lá
Para o prêmio receber
E se deixasse de ir
Era na certa perder.

Cento e trinta mil reais
Era o valor do bolão
Mais hospedagem e passagem
Ida e volta de avião
Não deu pra Zé Capiau
Resistir a tentação.

Deixou seu sítio “Vertente”
Sem nenhum acompanhante
Foi pra Natal numa “besta”
Sem achar nada importante
Pra de lá pegar um voo
Pra capital bandeirante.

Chegando ao aeroporto
Zé ficou sem ter ação
Sentiu na sua cabeça
Uma grande confusão
Por não saber como era
Que pegava o avião.

Felizmente um guarda viu
Ele muito aperreado
Comoveu-se e ajudou-o
Dele ficou sempre ao lado
Só o deixando depois
Do “boeing” ter decolado.

Assim que o avião
Foi começando a subir
Zé sentiu um suor frio
Notou o sangue fugir
Mesmo preso pelo cinto
Tinha medo de cair.

Zé sentia tanto medo
O tempo todo a tremer
Ora pensava na vida
Ora pensava em morrer
Deu vontade de mandar
Parar pra ele descer.

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Quando o avião estava
A dez mil metros de altura
Os outros soltaram os cintos
Zé arrochou a cintura
Dizendo: – Se eu me soltar,
Caio e ninguém me segura.

Moças serviam a bordo
Saborosa refeição
Zé olhou para a comida
Disse: – Pra mim, isso não!
Eu quero tripa de porco,
Farinha, arroz e feijão.

Não havia esse cardápio
Então Zé pediu somente
Água, que veio tão gelada
Que Zé gritou descontente:
– Essa desgraça só veio
Pra magoar o meu dente.

Danou-se o dente a doer
E ele quase a chorar
Dizia: – Ah se eu tivesse
Um “cachete” pra tomar!
Quando escutou uma voz
Pelo som anunciar.

“Muita atenção passageiros
Queiram o cinto apertar
A aeronave prepara-se
Para agora aterrissar.”
Zé apertou mais e disse:
– Meu bucho vai estourar.

Nisso o avião pousava
Num voo muito perfeito
Zé desceu tremendo as pernas
E disse estufando o peito:
– Nunca pensei que São Paulo
Fosse perto desse jeito!

Assim que pisou na pista
Sentia dor de ouvido
O dente ainda doía
E ele todo entanguido
Pela equipe do Sílvio
Foi a um hotel conduzido.

No outro dia após ter
Mostrado as credenciais
Sílvio Santos deu-lhe em cheque
Cento e trinta mil reais
Mas voltar de avião
O Zé não aceitou mais.

Num ônibus superlotado
Zé regressou bem contente
Três dias com duas noites
Num desconforto evidente
Mas sem reclamar de nada
Chegou de volta a “Vertente”.

Com a grana que ganhou
Melhorou de condição
Comprou gado, comprou terra
E um carro velho a bujão
Agora gosta de andar
Só não quer ouvir falar
Em viagem de avião.

Autor: Zé Bezerra

2 comentários:

Pedro Cardoso disse...

Gostei de mais! muito bem feito. sera que estou certo? este blog é de Zé de Abdias que morava no sitio Papaconha? se realmente for foi o meu unico professor, tudo que aprendi na escola foi com ele...

Zé Bezerra disse...

Realmente sou eu o Zé de Abdias. Mas aqui em Patu, a cidade em que moro, todos me conhecem por Zé Bezerra.Fico feliz pelo comentário dizendo que gostou do meu poema e me alegro também em saber que estás bem,batalhando pela vida na profissão de fotógrafo.Não sei te lembras que sou teu padrinho de fogueira.Pois bem, estou te transmitindo a minha bênção, pedindo que te proteja sempre.Tenho também orkut e MSN,meu email é: ze_bezerra@hotmail.com Um grande abraço e que Deus te abençoe!